Notícia - Investimentos
No site do ValorOnline, está a seguinte matéria, escrita por Luiz Cordoniz, incrivelmente interessante:
Como obter retornos satisfatórios nos investimentos em ações
Luiz Codorniz19/10/2006
A descrição mais sucinta de como ser bem-sucedido nos investimentos em ações foi feita por um jogador de pôquer que estudou até a oitava serie, Puggy Person: "Ain't only three things to gambling: knowin' the 60-40 end of a proposition, money management, and knowin' yourself" ("Existem três coisas nas apostas: conhecer as probabilidades 60%-40%; gestão do dinheiro e conheça a si mesmo").
Os sentidos dos dois primeiros são: 1) busque situações que tenham probabilidades favoráveis; e 2) gestão de risco/tamanho da aposta. Essa citação consta no relatório anual de 2003 do Fundo Legg Mason Value Trust, gerido por Bill Miller, com patrimônio de US$ 19 bilhões, e que superou o S&P nos últimos 15 anos.
Baseado nisso, o leitor pode achar que jogo e investimento são iguais. Somente em alguns casos, tais como "blackjack", onde as probabilidades às vezes são favoráveis ao jogador e a habilidade em contar as cartas é importante para obter uma vantagem sobre o cassino. Já em jogos como loteria e roleta - que não envolvem nenhuma habilidade -, as probabilidades de ganho são desfavoráveis ao jogador, pois o valor esperado é negativo.
Analisando a citação acima, o primeiro item sugere que o investidor invista em ações cujas probabilidades de retornos satisfatórios tenham um valor esperado positivo. Essas opções são aquelas em que existe uma discrepância significativa entre o preço da ação e seu valor intrínseco, ou seja, há aquilo que Ben Graham chama de margem de segurança, em termos quantitativos e qualitativos. Adicione a isso, a existência de um catalisador para provocar uma mudança de percepção do mercado sobre os méritos do investimento, o que acelera o fechamento do gap entre o preço de mercado e o valor intrínseco da ação.
Essa idéia que lidamos com probabilidades quando efetuamos investimentos é também defendida por Marty Whitman, o veterano gestor, de 81 anos, do Third Avenue Value Fund (TAVF), com patrimônio líquido de US$ 8,4 bilhões e retornos de 16,7% frente 9,4% do S&P, desde novembro de 1990. Whitman diz no relatório de 30/04/2006: "TAVF tenta lidar com as probabilidades. A principal maneira que o fundo usa para ter as probabilidades em seu favor é por meio da aquisição de ações de empresas bem financiadas à preços que representam descontos significativos do valor do ativo líquido (valor intrínseco)". Whitman diz também em seu livro "Value Investing: A Balanced Approach" que qualquer bom investimento tem sempre alguma coisa errada, portanto a questão é definir se o problema é estrutural (permanente) ou temporário.
O segundo aspecto foca a gestão de risco, e isso se refere o quanto alocar em cada investimento de forma a minimizar perdas e maximizar os ganhos esperados. Esse tópico foi objeto de um artigo que foi publicado em 20/07/2006 neste mesmo espaço com o título: "Quanto investir em cada papel de uma carteira de ações?" O montante a ser investido em cada componente da carteira será em função das probabilidades favoráveis e isso pode ser estimado aplicando-se a fórmula de Kelly. O investidor deve abster-se de investir em ações que estejam razoavelmente precificadas, sem margem de segurança, pois as probabilidades dos papéis gerarem retornos significativos são baixas e não compensam o risco.
O último aspecto refere-se aos aspectos comportamentais e ao quanto sabemos sobre o que Warren Buffett denomina "círculo de competência", isto é, restringir nossos investimentos àquelas alternativas que conseguimos entender. O primeiro aspecto está em voga, sob o nome de "Behavioral Finance" (Finança Comportamental), e que já foi objeto de artigos nesta coluna. Evitando repetições, abordarei outros aspectos, que são extremamente importantes: disciplina e paciência.
O investidor deve ter disciplina em seguir essa estratégia e paciência para aguardar o surgimento de oportunidades atrativas. Tendo efetuado o investimento, manter a paciência até que o investimento frutifique (existindo uma margem de segurança), pois leva certo tempo para que o mercado reconheça os méritos do mesmo. No prefácio do livro "The Intelligent Investor", de Ben Graham, Warren Buffett diz que "para ser bem-sucedido em investimentos é necessário ter um sólido sistema intelectual para tomada de decisões e a habilidade de evitar que as emoções corroam esse sistema". Nesse mesmo livro, Graham alerta sobre a nossa tendência de deixar-nos influenciar pela manada: "Você não está certo ou errado porque a manada discorda de você. Você está certo porque suas informações/dados e raciocínio estão corretos."
Os dois primeiros fatores não são difíceis de aprender. O desafio são os aspectos comportamentais, e a maioria das grandes perdas ocorre devido a esse fator.
Luiz Codorniz (lmcmarco@yahoo.com) é consultor de empresas e investimentos.
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